Em 2023, após mais de 540 milhões de doses aplicadas ao longo de quase três anos, o Brasil está passando por uma transição na estratégia de vacinação contra a COVID-19, mudando das campanhas emergenciais para uma imunização de rotina. O diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti, fez essa avaliação durante a Jornada Nacional de Imunizações, realizada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Florianópolis, no dia 20 de setembro.
Até 2023, o Ministério da Saúde havia ampliado a vacinação com doses de reforço bivalentes para toda a população acima de 12 anos de idade. No entanto, a adesão a essa campanha foi baixa, mesmo entre os grupos prioritários que apresentavam maior risco de complicações pela doença. Enquanto 516 milhões de doses de vacinas monovalentes foram administradas no país, apenas 28 milhões de doses bivalentes foram aplicadas, sendo apenas 217 mil em adolescentes.
Para o ano de 2024, está em elaboração uma proposta para incorporar a vacinação contra a COVID-19 no calendário de rotina de vacinação de crianças menores de 5 anos. Além disso, doses de reforço periódicas, pelo menos uma vez por ano, serão recomendadas para grupos de risco, como idosos, pessoas imunocomprometidas e gestantes, seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Também existe a possibilidade de inclusão de outros grupos, como profissionais de saúde e comunidades tradicionais.
Eder Gatti enfatizou a necessidade de revisar a estratégia de vacinação, passando de uma abordagem de vacinação em massa para uma recomendação permanente. Ele planeja iniciar uma estratégia de vacinação de rotina contra a COVID-19 no início de 2024, substituindo o caráter de excepcionalidade que tem pautado a imunização contra a doença até o momento.
No entanto, Gatti ressalta a importância da vigilância constante das variantes do vírus, pois elas têm desempenhado um papel significativo nas ondas de infecção desde o início da pandemia. Ele observa que, ao contrário de outras doenças respiratórias, a COVID-19 não segue um padrão sazonal, tornando a atualização das vacinas essencial.
Quanto à escolha das vacinas, o Programa Nacional de Imunizações pretende disponibilizar preferencialmente as vacinas mais recentes e atualizadas contra as variantes. Isso inclui a busca pelo desenvolvimento de vacinas de RNA mensageiro no cenário nacional.
O Ministério da Saúde está apoiando o desenvolvimento de vacinas de RNA mensageiro por instituições como o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) e o Instituto Butantan, com o objetivo de ter uma tecnologia nacional dessa plataforma à disposição. Gatti acredita que essa tecnologia é importante não apenas para a COVID-19, mas também para o desenvolvimento de vacinas contra outros agentes infecciosos.
A transição para uma vacinação de rotina contra a COVID-19 está sendo discutida em todo o mundo, com diferentes abordagens adotadas por diferentes países. A importância de reforços com vacinas bivalentes disponíveis no Brasil é destacada, assim como a necessidade de ampliar a cobertura vacinal, especialmente entre crianças que ainda não receberam as duas doses iniciais.
O desenvolvimento de uma vacina genérica capaz de proteger contra todas as variantes do SARS-CoV-2 e outros coronavírus é um objetivo de pesquisa, mas o vírus continua a evoluir, tornando essa tarefa desafiadora. A imunização de pessoas imunocomprometidas é crucial, pois essas pessoas podem oferecer mais oportunidades para o vírus sofrer mutações. A pressão seletiva do sistema imunológico e a evolução do vírus são preocupações constantes na luta contra a COVID-19. Portanto, apesar dos desafios, a vacinação continua sendo uma ferramenta importante para reduzir a gravidade das infecções e proteger a população.