Um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que aproximadamente 36% dos brasileiros, o que equivale a pouco mais de um terço da população, dedicam mais de uma hora por dia a deslocamentos para atividades cotidianas como trabalho e estudo. Este estudo também constatou que metade desses indivíduos sente que a qualidade de vida é impactada devido ao tempo gasto em deslocamento, sendo o estresse o sintoma mais comum.
A pesquisa foi conduzida através de entrevistas com 2.019 pessoas economicamente ativas, acima dos 16 anos, que residem em cidades do país com mais de 250 mil habitantes. As entrevistas ocorreram entre 1º e 5 de abril deste ano, e a margem de erro é de 2 pontos percentuais.
De acordo com o levantamento, o aspecto profissional é o mais afetado pelo tempo dispendido em deslocamento. Cerca de 60% dos entrevistados relataram atrasos em seus trabalhos devido ao tráfego. Além disso, uma parcela mencionou ter recusado ofertas de emprego (32%) ou mudado de emprego (10%) devido ao percurso.
Um exemplo disso é Luis Fernando, de 24 anos, que reside em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. Ele gasta três horas por dia para se deslocar de sua casa até a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, na Santa Cecília, centro da cidade. Luis enfrenta a lotação nos transportes públicos, lê quando possível e busca distrações em redes sociais para lidar com a longa jornada.
Entretanto, Luis planeja mudar-se para o centro da cidade até o próximo ano para ter uma rotina menos desgastante, apesar do obstáculo do alto custo do aluguel.
O levantamento também revelou que 29% dos entrevistados acreditam que seus tempos de deslocamento aumentaram após o início da pandemia, atribuindo isso a uma diminuição na oferta de transportes.
Rafael Castelo, professor de engenharia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), concorda com essa análise. Ele observa que o isolamento social levou a uma percepção de maior eficiência nos transportes, mas também à superlotação, uma vez que a demanda voltou a aumentar.
Castelo enfatiza que o problema é sistêmico nas grandes cidades, onde automóveis, ônibus e motocicletas competem pelo espaço viário devido ao aumento significativo de carros nas ruas. Ele acrescenta que mesmo o sistema de trem e metrô, mais rápidos, não conseguem atender à demanda de maneira satisfatória e não se estendem suficientemente às áreas mais afastadas.
Outra pesquisa da CNI, publicada recentemente, mostrou que os brasileiros preferem usar carros por aplicativo em vez de serviços públicos de transporte. Cerca de 64% dos entrevistados consideram os serviços oferecidos por empresas como Uber e 99 como bons ou ótimos, seguidos pelo metrô com 58% de aprovação. O ônibus obteve a menor avaliação, com apenas 29% de avaliações positivas.
Apesar dessa preferência pelo transporte individual, o ônibus continua sendo o meio de transporte coletivo mais utilizado, com metade dos entrevistados usando-o diariamente. No entanto, esse modal também acumula o maior número de reclamações, incluindo falta de segurança, excesso de passageiros, frota inadequada e atrasos.
A pesquisa também indicou insatisfação em relação à gestão pública de mobilidade urbana, com 57% dos entrevistados considerando o planejamento dos governos municipais e estaduais insuficiente. Apenas 16% julgam haver uma organização avançada.