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Aquecimento global aumentou intensidade de chuvas no Nordeste

Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte estão entre estados afetados por enchentes; desastres retiraram quase 70 mil pessoas de casa.
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Tempestades continuam a castigar estados no Nordeste do país, deixando um rastro de destruição pelas regiões atingidas. Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba estão entre os locais que enfrentam consequências como enchentes, deslizamentos e transbordamentos.

O cenário de devastação é agravado, segundo especialistas, pelo aquecimento global.

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As mudanças climáticas impulsionadas pelas ações humanas resultaram em um aumento, tanto na probabilidade quanto na intensidade, das chuvas que atingiram a região do país no fim de maio e no início de junho. É o que aponta o estudo da World Weather Attribubution, divulgado esta semana.

Apesar de o período ser tradicionalmente considerado a temporada de chuvas na região do país, de acordo com a pesquisa, “esses eventos, agora, são mais prováveis ​​de acontecer do que teriam sido em um clima que não tivesse sido aquecido pelas atividades humanas”. Sem o aquecimento gobal, as precipitações teriam sido um quinto menos intensas.

A situação continua grave: segundo levantamento da Defesa Civil dos estados, mais de 70 mil pessoas foram obrigadas a deixar seus lares. No Rio Grande do Norte, choveu o esperado para o mês de julho inteiro em quatro dias. Alagoas, no entanto, é o estado com a situação mais preocupante no momento, com mais de 56 municípios em situação de emergência.

Não é novidade a ocorrência de tragédias provocadas por tempestades no Brasil. Embora o grande volume de chuva não seja atípico no país, principalmente na Região Sudeste, alguns estados ainda sofrem com deslizamentos de terras e alagamentos

“Esses são eventos climáticos extremos, que têm se tornado cada vez mais frequentes em todo o mundo num contexto de aquecimento global. Trata-se, portanto, de resultado direto da influência antrópica (dos humanos) sobre a atmosfera terrestre”, aponta o geólogo Rafael Rodrigues da Franca, professor da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em climatologia.

Além disso, devido às condições impostas à natureza, outros fatores, como o aumento do nível do mar e as marés mais altas, podem aumentar a vulnerabilidade às chuvas fortes, levando a mais inundações urbanas em Recife, por exemplo.

Situação tende a se agravar

O cenário havia sido anunciado no último relatório Mudanças Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC), divulgado no início deste ano.

Entre as conclusões do estudo, a população afetada por enchentes e deslizamentos de terra no Brasil pode dobrar, ou até triplicar, nas últimas décadas, em um cenário de aquecimento global de 1,5ºC. Atualmente, o planeta já aqueceu 1,1ºC em relação aos níveis pré-industriais.

Entre extremos

O país também está entre os mais vulneráveis para ondas de calor, como as observadas, mais recentemente, em países como a Índia e o Paquistão. Nesses locais, o calor ultrapassou a temperatura dos 50 °C, e chegou perto do limite suportado pelo ser humano — o que resulta, além de problemas de saúde, em um enorme custo econômico.

Caso o cenário se mantenha, partes do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil ficarão vulneráveis aos riscos provocados por tais condições de calor por até 30 dias por ano. Em consequência, as mortes por calor em território brasileiro aumentarão 3% até 2050 e 8% até 2090.

No topo da lista dos mais vulneráveis, está a população de baixa renda. A pesquisa da World Weather Attribubution ressalta que os deslizamentos de terra ocasionados por precipitações nos últimos meses afetaram desproporcionalmente essas comunidades, com “particular devastação em bairros de baixa renda”.

Em suma, a magnitude do desastre ocasionado pelas enchentes em 2022 sobre esses grupos foi exacerbada pela vulnerabilidade estrutural pré-existente na região.

“Do ponto de vista jurídico, para frear o agravamento desses fenômenos é importante a elaboração e efetiva implementação de políticas públicas voltadas para mitigação e adaptação às mudanças climáticas”, frisa o professor Rômulo Sampaio, de Direito Ambiental da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro.

Na mira internacional

Pelo terceiro ano consecutivo, o mês de junho registrou alta no desmatamento ilegal na Amazônia. Foram 1.120 km² devastados no bioma, segundo a análise. Trata-se da maior marca desde 2016, início da série histórica. O dado foi revelado nessa sexta-feira (8/7) pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Brasil fechou 2021 como líder no ranking mundial de destruição de florestas tropicais, sendo responsável por mais de 41% da perda de vegetação primaria do planeta no ano passado, de acordo com a plataforma de monitoramento Global Forest Watch (GFW).

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