O estado de Rondônia está oficialmente no eixo do ambicioso projeto de integração sul-americana conhecido como Corredor Bioceânico Brasil-Peru. A proposta prevê a construção de uma ferrovia ligando o Porto do Açu (RJ) até o porto de Chancay, no Peru, atravessando regiões estratégicas do Brasil, entre elas Corinto (MG), Uruaçu (GO), Lucas do Rio Verde (MT) e Porto Velho (RO), antes de seguir rumo ao território peruano.
Com mais de 4 mil quilômetros de extensão, a ferrovia visa estabelecer uma conexão entre os oceanos Atlântico e Pacífico, encurtando a distância entre o Brasil e a Ásia em até 10 mil quilômetros, o que pode significar uma economia de aproximadamente 10 dias no transporte marítimo de cargas com destino à China.
O projeto, que ganhou novo fôlego em meio às tensões comerciais entre China e Estados Unidos, é apoiado diretamente pelo governo chinês, que já demonstrou interesse em financiar e executar a obra por meio das gigantes China Railway Construction Corporation (CRCC) e China Railway Engineering Corporation (CREC).
No Peru, o terminal final da rota será o megaporto de Chancay, localizado a cerca de 80 km de Lima e inaugurado em novembro de 2024 com a presença do presidente chinês Xi Jinping. O porto conta com capacidade para movimentar anualmente 1 milhão de TEUs, 6 milhões de toneladas de carga a granel e 160 mil veículos, representando um elo fundamental da estratégia comercial chinesa na América do Sul.
Em abril, uma delegação de engenheiros chineses visitou o canteiro de obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), em Ilhéus (BA), para avaliar sua conexão com o traçado da futura ferrovia transoceânica. A proposta é integrar toda a malha ferroviária de leste a oeste, cortando estados como Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre, até chegar ao Pacífico.
Durante o Fórum Empresarial Brasil-China, realizado ontem (12) em Pequim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a importância das rotas bioceânicas para fortalecer o comércio com a China, especialmente em um cenário global de disputas comerciais. “As rotas bioceânicas encurtarão a distância entre o Brasil e a China em aproximadamente 10 mil quilômetros”, afirmou.
Para especialistas em logística, a ferrovia é uma alternativa estratégica e sustentável às rodovias, que há décadas enfrentam gargalos, altos custos de manutenção e baixa eficiência no transporte de cargas pesadas. A consolidação do corredor ferroviário representa, portanto, um novo capítulo para o escoamento da produção agroindustrial brasileira, com impactos diretos para o desenvolvimento de Rondônia e de todo o centro-oeste e norte do país.
Com o avanço dos estudos de viabilidade e a atuação conjunta entre governos e empresas chinesas, o Brasil pode estar prestes a dar um salto histórico em sua infraestrutura de transportes.