Hoje é o novo dia de um novo tempo, que começou, mas a festa não é sua nem nossa. Ou ainda não. A Globo começa a veicular nesta quarta-feira (1º) as tradicionais chamadas de fim de ano com seu elenco, omitindo a palavra “festa” da letra, em respeito às perdas acumuladas pela Covid. Isso não impede que a emissora programe uma série de chamadas para reforçar a ideia de retomada da vida normal, ainda que sua audiência, mesmo na liderança, resista em retornar aos patamares habituais.
Pela primeira vez em 21 meses, as três principais novelas da casa voltam a ser inéditas, condição que também norteia o pacotão de fim de ano a ser anunciado a partir desta quarta, quando outra mudança marca a linguagem visual da emissora: branco desde 2016, o logotipo, que já foi prateado, ganha cores, numa mudança visual que corrobora a esperança por dias melhores.
Diante de todos os esforços para voltar a gravar e apresentar algo novo, é inevitável notar que os números de audiência de “Um Lugar ao Sol”, novela das nove lançada em novembro, e “Quanto Mais Vida Melhor”, no ar desde a semana passada, nunca foram tão baixos.
Diretor da emissora, Amauri Soares observa que houve queda no número de televisores ligados e a Globo tem mantido sua fatia percentual (share) de participação nesse universo. “Nós temos uma avaliação detalhada disso e essa audiência é afetada sempre por um conjunto de fatores”, diz ele em entrevista à reportagem por videoconferência.
“Historicamente, há um período de luto entre uma novela e outra, há um momento em que as pessoas vão fazer outras coisas e depois voltam, nada anormal, essa audiência já está subindo.”
De toda forma, 23 pontos para um folhetim das nove da Globo na Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a 205.377 pessoas, é um recorde negativo nesse espaço, assim como 20 pontos em “Quanto Mais Vida Melhor” é o mais baixo patamar já alcançado por uma trama das sete, e 16 pontos também põe “Nos Tempos do Imperador” historicamente aquém do horário das 18h.
A pandemia inflou a audiência da TV aberta e do streaming. Era esperado que isso se arrefecesse quando as pessoas voltassem a sair de casa. Mas, no caso da Globo, os números não voltaram a ser como antes e vinham performando até melhor durante as reprises de um mês atrás.
“É todo um contexto”, segue Soares. “Estamos em novembro, as pessoas estão saindo da toca, como você disse, existe um movimento de empregos sazonais em comércio, e o volume de desemprego é muito grande, argumenta ele, que não despreza o poder de outras telas.
“É claro que temos também um cenário de oferta muito maior de conteúdo de TV, não podemos negar. O público é o mesmo e a oferta é maior, a disputa pela atenção desse telespectador ficou mais acirrada.”
É com esse cenário que a emissora tenta atrair de volta a plateia que desligou a TV ou mudou de estação, por meio das chamadas e mensagens que ocuparão espaço a partir desta quarta (1º), quando vai ao ar a primeira produção especial de fim de ano.
Coproduzida com a Favela Filmes, por meio da Cufa -Central Única das Favelas- e a KondZilla, “Mães do Brasil” traz histórias de mães moradoras de favelas em diferentes regiões do país, diante do desafio de sobreviver na pandemia.
No dia 19, virá uma segunda edição de “Juntos a Magia Acontece”, enredo de Natal que começou em 2019 e levou prêmios internacionais, com Papai Noel negro e família idem.
A partir do dia 20, a Globo põe no ar uma coprodução internacional que enfrentou dificuldades para ser concluída em meio às restrições sanitárias: “Passaporte para a Liberdade” traz Rodrigo Lombardi e Sophie Charlotte dublando suas próprias vozes para o português, já que ambos gravaram tudo em inglês.
De Mario Teixeira, com direção de Jayme Monjardim, a série terá seus oito episódios exibidos nas semanas de Natal e Ano Novo, o que beira o desperdício, considerando a audiência normalmente baixa nessa época do ano.
O enredo conta a história de Aracy de Carvalho, na Alemanha, onde ela salvou muitos judeus do Holocausto.
A ceia de Natal inclui uma edição em tributo aos 70 anos da telenovela brasileira, e Soares promete que o especial não vai se restringir a produções da Globo -que tem só 56 anos.
O tributo ao folhetim de TV, “70 Anos Esta Noite”, será outro programa de grandes reencontros. E irá ao ar no dia 21 de dezembro, terça-feira, forçando a transferência da semifinal do The Voice Brasil para a segunda (20).
Roberto Carlos, que teve de se contentar com a reprise do show de Jerusalém em dezembro de 2020, volta aos Estúdios Globo para um show que quebra seu jejum dos palcos, situação iniciada em março de 2020.
Retrospectiva do ano e série documental que registra as festas adiadas pela Covid também estarão no ar em dezembro, enquanto a emissora busca se reencontrar com a plateia habitual, mas também com quem mudou de canal.