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O que se sabe até agora sobre a crise política da CBF com Rogério Caboclo

Durante a semana, uma série de episódios acabaram jogando a entidade em uma crise complexa, de várias frentes

A seleção brasileira lidera com folgas as Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo, status confirmado com a vitória sobre o Equador em Porto Alegre. No entanto, fora das quatro linhas, o ambiente da CBF ferve como há tempos não se via.

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Durante a semana, uma série de episódios acabaram jogando a entidade em uma crise complexa, de várias frentes. Em comum entre elas, está a figura do presidente Rogério Caboclo, que foi afastado do comando da CBF neste domingo (6).

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COPA AMÉRICA

O Brasil foi confirmado como sede improvisada da Copa América nesta semana, restando menos de 15 dias para a abertura da competição. Depois de um pedido da Conmebol, a CBF recorreu ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e o país foi anunciado como novo anfitrião em razão de problemas sanitários e políticos envolvendo as sedes originais do torneio, Argentina e Colômbia.

O contato entre Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, e Rogério Caboclo, presidente da CBF ocorreu na noite de domingo passado. A discussão não envolveu a jogadores e comissão técnica da seleção brasileira. Insatisfeitos por não terem sido ouvidos nesta decisão, especialmente em um momento de contexto político delicado no país envolvendo a pandemia do coronavírus, os jogadores se reuniram inicialmente com Tite e o coordenador Juninho Paulista.

Depois, solicitaram uma agenda com Caboclo, que viajou do Rio de Janeiro a Teresópolis só para isso. O encontro foi realizado na quarta-feira, na Granja Comary, e uma das principais pautas foi a falta de diálogo da entidade com o grupo, além de questões sanitárias.

Há uma promessa de manifestação coletiva de todo o grupo sobre o tema após a partida de terça-feira, contra o Paraguai, pelas Eliminatórias. Após a vitória sobre o Equador na sexta, Casemiro, capitão da seleção, deu indícios de qual será o tom dos jogadores.

“Não podemos falar do assunto, todos sabem nosso posicionamento, mas não vamos falar desse assunto. Todo mundo sabe nosso posicionamento, está mais claro impossível, Tite deixou claro para todo mundo o que nós pensamos da Copa América. Existe um respeito, uma hierarquia que temos que respeitar, queremos dar nossa opinião e aconteceram muitas coisas. Queremos falar, mas não queremos desviar o foco, porque isso para nós é Copa do Mundo. Hoje ganhamos jogo de Copa do Mundo, é importante para nós”, disse o volante, à TV Globo.

CONSTRANGIMENTO

Antes da vitória sobre o Equador em Porto Alegre, Caboclo protagonizou momento de constrangimento junto aos atletas da seleção. Aparentemente alcoolizado, o dirigente tentou fazer um discurso para incentivar os atletas e não conseguiu nenhuma palavra em troca. De acordo com bastidores colhidos pela coluna do jornalista Danilo Lavieri, todos os envolvidos olhavam para o chão para evitar contato visual com o cartola. Ele chegou a forçar apertos de mão e abraços e foi retribuído quase que por educação.

“Ele conseguiu piorar o que a gente achava que não ia piorar” segundo o relato de um dos presentes. “Já tínhamos ouvido falar sobre ele aparecer frequentemente alcoolizado, especialmente na sede da CBF, mas nunca tinha presenciado algo tão evidente no vestiário”, completou outra fonte ouvida pela coluna.

ACUSAÇÃO DE ASSÉDIO

Em caso tornado público na última sexta-feira, Rogério Caboclo é investigado pela comissão de ética da CBF após denúncia feita por uma funcionária da entidade. As acusações também foram recebidas pela diretoria de governança e conformidade.

A funcionária trabalha na CBF há quase dez anos e pede investigação e punição a Rogério Caboclo. Segundo apurou o UOL Esporte, a comissão de ética da entidade já converte a denúncia em verificação de provas, como áudios anexados aos relatos.

A funcionária acusa Caboclo de assédio sexual e moral por atos cometidos desde abril de 2020. Ela menciona em sua denúncia episódios de constrangimento, inclusive na presença de testemunhas.

Há pelo menos um mês existe muita agitação nos bastidores da CBF por causa do vazamento de informações que dão conta de comportamentos considerados inapropriados por parte de Caboclo. Dirigentes que frequentam os bastidores da CBF e até de círculos um pouco mais distantes já tinham ciência do teor da denúncia, mas ainda aguardavam para ver se ela viria à tona.

A defesa de Caboclo se manifestou sobre o episódio através de uma nota breve na noite de sexta-feira: “A defesa de Rogério Caboclo responde que ele nunca cometeu nenhum tipo de assédio. E vai provar isso na investigação da Comissão de Ética da CBF.”

AFASTAMENTO

O Conselho de Ética da CBF convocou uma reunião extraordinária para discutir a denúncia de assédio moral e sexual contra o presidente Rogério Caboclo. Seguindo o estatuto da entidade brasileira, os membros do conselho podem recomendar o afastamento preventivo do dirigente e convocar uma assembleia extraordinária para se votar pela aplicação da sanção.

Em casos como esse, teriam direito a voto as 27 federações de futebol do Brasil e os 40 clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Diretores, vice-presidentes e outros funcionários da CBF ficariam de fora.

Algumas pessoas do futebol, conforme apuração da coluna Lei em Campo, entendem que para se determinar o afastamento de Rogério Caboclo do cargo é preciso uma decisão do Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), conforme prevê o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).

PATROCINADORES

Principal patrocinadora da seleção, a Nike afirmou estar “profundamente preocupada” com a denúncia de assédio sexual contra o presidente da CBF, Rogério Caboclo, feita por uma funcionária da entidade.

“A Nike está profundamente preocupada com as graves acusações feitas ao presidente da CBF. Seguimos acompanhando de perto à apuração do caso e qualquer investigação futura. Esperamos que todas as descobertas sejam acionadas rapidamente”, manifestou a empresa, através de sua assessoria de comunicação.

Entres os vice-presidentes da CBF, há preocupação de que o escândalo de Caboclo afete os patrocínios da entidade. A manifestação da Nike é parecida com às dos outros cinco patrocinadores que falaram sobre o caso:

Itaú: “O Itaú Unibanco recebe com preocupação as acusações divulgadas nesta sexta-feira envolvendo o presidente da CBF. Na qualidade de patrocinador oficial da Seleção Brasileira de Futebol, o banco acompanhará de perto a apuração do caso e espera que a investigação seja profunda e célere.”

Mastercard: Nós estamos cientes e preocupados com as sérias alegações. Continuaremos acompanhando a situação, esperamos que as investigações sejam profundas e rápidas.”

Ambev: “Estamos acompanhando atentamente as informações sobre o caso. Manifestamos nossa profunda preocupação com os relatos divulgados, pois reportam práticas que não toleramos. Seguimos atentos à apuração do caso e esperamos uma análise com a seriedade e rapidez que a situação requer.”

GOL: “A GOL tomou conhecimento e tem preocupações sobre as acusações contra o presidente da CBF. A Companhia, na condição de patrocinadora da Seleção Brasileira, irá acompanhar de perto as apurações e desdobramentos do caso”.

Vivo: “A Vivo está acompanhando com atenção as apurações sobre o caso, por se tratar de uma denúncia que reporta situações que não condizem com os valores da empresa. A Vivo repudia qualquer ato de assédio ou discriminatório.”