TEMPLOS
No extremo sul do Brasil, na divisa com o Uruguai, está o município de Chuí, uma cidade pequena, de clima frio e ventos constantes, mas com uma característica sociocultural bastante singular: é o lugar com o menor número de religiões institucionalizadas do país.
POUCO INTERESSE
Enquanto em boa parte do Brasil as igrejas disputam fiéis e visibilidade, em Chuí elas são poucas, discretas e não fazem parte do cotidiano da maioria da população.
SEM SUBTERFÚGIOS
Mas engana-se quem pensa que isso faz do Chuí uma cidade de ateus ou de céticos convictos. O que se observa, na verdade, é uma fé interiorizada, desprovida de apêndices visíveis ou da necessidade de rituais públicos.
PESSOAL
Os moradores parecem carregar suas crenças de maneira íntima, como algo que não precisa ser exibido ou validado por estruturas religiosas.
AÇÃO
É uma espiritualidade silenciosa, que foge das estatísticas convencionais e que se expressa mais nos gestos do que nas palavras.
SEM ALARDE
Não há grandes templos, não há cultos barulhentos, nem romarias — mas há respeito, tolerância e uma convivência tranquila entre quem crê e quem não crê, ou crê de forma diferente.
PIROTECNIA
A fé, em Chuí, é menos um espetáculo e mais uma convicção silenciosa, quase introspectiva.
FRONTEIRA
Esse traço pode estar ligado à formação cultural da cidade, fortemente influenciada pela proximidade com o Uruguai, um país secularizado e que carrega uma tradição laica mais forte que a brasileira.
DISCRETO
A fronteira cultural entre os dois países é quase invisível, e isso se reflete também na forma como se vive a religiosidade.
SEM INTERMEDIÁRIOS
No Chuí, a espiritualidade parece se livrar dos intermediários e se assentar em algo mais direto, mais pessoal.
SEM MOLDURAS
Ali, as pessoas demonstram que é possível crer sem depender de dogmas institucionalizados. Elas não negam a fé — apenas não a moldam em igrejas ou denominações.
BASE
Chuí ensina que a religiosidade pode existir com menos formalidade e mais essência, menos rito e mais consciência.
PECULIARIDADE
Um lembrete, talvez, de que a fé não precisa sempre de templo para existir. Às vezes, basta o silêncio do pampa e o vento frio do sul para se encontrar com o sagrado.
NÚMEROS
Sobre o tema da coluna, os dados mais recentes do Censo Demográfico 2025, divulgados pelo IBGE, mostram que o município de Chuí, lidera o ranking nacional em proporção de pessoas que se declaram sem religião.
MAIS DA METADE
O levantamento revelou que exatos 54% da população local afirmam não possuir filiação religiosa, um índice mais que o dobro da média nacional, que ficou em 16%.
AUMENTOU
Esse dado representa um aumento expressivo em relação ao último censo (2010), quando cerca de 25% da população de Chuí se declarava sem religião.
AUMENTOU 2
Ou seja, houve um crescimento de quase 30 pontos percentuais em apenas 15 anos, o que reforça a ideia de uma transformação cultural e social na região.
NÃO É SÓ ESTATÍSTICA
Essa disparidade mostra que Chuí não apenas se destaca estatisticamente, mas também reflete uma realidade sociocultural própria, influenciada por fatores como a proximidade com o Uruguai — um dos países mais laicos da América Latina — e o baixo índice de presença institucional de grandes igrejas no município.
PERFIL
O Censo também revela que a maior parte dos sem religião no município é composta por: Adultos entre 25 e 40 anos; Pessoas com ensino médio ou superior completo; Homens e mulheres em proporções equilibradas; E uma boa parcela que se define como agnóstica ou espiritualista, embora não siga uma religião formal.
ANÁLISE DE ESPECIALISTAS
De acordo com a socióloga Clara Menezes, especialista em religião e sociedade pela UFRGS, o “Chuí é um laboratório interessante de análise porque sua população é pequena, mas altamente conectada com fluxos culturais transnacionais”.
SEM LAVAGEM CEREBRAL
“A influência uruguaia, a falta de pressão social para seguir uma tradição religiosa e o acesso a informações diversas contribuem para o índice elevado.”
SIGNIFICADO PARA O BRASIL
A realidade de Chuí pode ser um indicador de uma tendência nacional de crescimento da população não religiosa, sobretudo em regiões urbanizadas e de fronteira.
MIGRAÇÃO
Embora o Brasil ainda tenha maioria cristã (com católicos e evangélicos somando mais de 80%), há uma clara migração de parte da população para identidades religiosas mais flexíveis, personalizadas ou ausentes.
ATEÍSMO
Especialistas alertam, porém, que o fenômeno não representa necessariamente um avanço do ateísmo, mas sim um reposicionamento individual diante da religião institucionalizada.
FRASE
A religião é vista pelas pessoas comuns como verdadeira, pelos inteligentes como falsa, e pelos governantes como útil.