Com o fim das atividades de 13 médicos cubanos que atuavam em Porto Velho por meio do programa Mais Médicos, moradores da zona rural e distritos do interior do município ainda não sabem quanto tempo ficarão sem o serviço.
Os profissionais encerraram os trabalhos na capital após a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) ser notificada pelo Ministério da Saúde de que os cooperados deveriam deixar os postos até o dia 30 de novembro.
Alheios as discordâncias entre Brasil e Cuba, os moradores da comunidade de Novo Engenho Velho, na margem esquerda do Rio Madeira, ficam sem saber o que fazer após a partida da única médica que atendia como clínica geral na única Unidade Básica de Saúde (UBS) da região.
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Segundo a coordenação da UBS, a médica cubana realizava de 25 a 30 atendimentos todas às terças e quintas-feiras. A maioria era de moradores do Novo Engenho Velho e de comunidades próximas.
Entre a população, a principal queixa é de que, com a partida da médica, ficará difícil conseguir encaminhamentos para exames médicos complexos em unidades de saúde da cidade. A comunidade fica a uma distância de 8 quilômetros do perímetro urbano de Porto Velho. A única via de acesso é uma estrada de terra.
Conforme a coordenação do posto de saúde de Novo Engenho Velho, dois enfermeiros estão responsáveis por atendimentos emergenciais. Já aos moradores que chegarem buscando atendimentos para clínico geral, será aconselhado seguirem a outras unidades de saúde no perímetro urbano de Porto Velho, na margem direita do Rio Madeira.
Ao G1, a coordenação da unidade disse que ainda não recebeu uma resposta da Semusa sobre a disponibilização de outro médico. Enquanto isso, moradores que não possuem veículos para chegar a Porto Velho, esperam que não demore muito tempo para a chegada de um novo profissional.
“Estou achando muito difícil, porque precisamos de um médico aqui. Há muita gente que fica doente e não tem dinheiro ou transporte para chegar a cidade. Ela era legal, atendia muito bem a gente”, lembra a aposentada Raimunda Gomes, de 64 anos.
O relato de dona Raimunda explica a situação de muitos moradores da comunidade de Novo Engenho Velho. Há quem não possa esperar os trâmites burocráticos para continuar com a saúde em dia.
“Eu estou sentido muitas dores a noite, pois estou em tratamento de pneumonia. Não estou bem. Preciso de um novo raio X, mas para isso eu precisaria de um encaminhamento. Cheguei a ser atendido por ela algumas vezes. Ela conversava bastante com o paciente”, descreve Matheus Sales, de 20 anos.
Em resposta, a Semusa afirma que está alinhada ao Ministério da Saúde para solucionar o buraco deixado pelos médicos cubanos.
“Fomos pegos de surpresa, mas já estamos com o cronograma de acordo com o Ministério da Saúde, que prevê a chegada de novos médicos profissionais a partir do dia 3 a 7 de dezembro deste ano em substituição aos médicos cooperados”, explica Igor Amorim, coordenador de Saúde da Família da Semusa.
Nesse período de transição, Igor conta como se darão os atendimentos nas unidades afetadas pela decisão. “As unidades, principalmente, da área rural, serão atendidos por outros profissionais de ensino superior, como enfermeiros e biomédicos. Em casos mais graves, serão encaminhados à capital”, completa.
Conforme a Semusa, 400 atendimentos serão suspensos até a chegada desses novos profissionais. Além de Novo Engenho Velho, as comunidades de Aliança e União Bandeirantes já ficaram sem os médicos cooperados.
Por telefone, a médica cubana, que atende pelo nome de Lorena, disse não poder comentar a fundo a situação, mas salientou que a experiência “foi muito boa”.