Rondônia voltou a registrar tragédias ligadas à precariedade da estrutura de saúde pública nos municípios do interior. Em menos de duas semanas, seis pessoas morreram em acidentes envolvendo ambulâncias — vítimas não apenas de colisões fatais, mas também de um sistema de saúde que ainda obriga pacientes a percorrer longas distâncias em busca de atendimento especializado.
O caso mais recente ocorreu na madrugada de sexta-feira (2), quando uma ambulância colidiu frontalmente com um ônibus na BR-364, próximo a Itapuã do Oeste. O acidente tirou a vida de uma paciente e uma técnica de enfermagem. O ônibus transportava 24 passageiros, que sofreram apenas ferimentos leves.
O outro episódio trágico aconteceu em 18 de abril, quando uma ambulância que transportava uma gestante de Vilhena para Porto Velho colidiu com um caminhão. Morreram a paciente grávida, a médica que a acompanhava, uma acompanhante e o motorista da ambulância. Ainda neste caso, um feto também perdeu a vida.
Essas mortes, somadas, expõem o custo humano de uma prática comum em Rondônia: a chamada “ambulanciaterapia”, em que pacientes de municípios distantes precisam ser transferidos para a capital em busca de tratamentos indisponíveis localmente. Em trajetos que chegam a ultrapassar 700 quilômetros por trecho, pacientes são transportados em veículos muitas vezes antigos, enfrentando chuvas, estradas perigosas e jornadas noturnas pela BR-364, uma rodovia de pista simples, mal sinalizada e sem acostamento em vários trechos.
Motoristas chegam a fazer esse trajeto duas vezes por semana, totalizando cerca de 3 mil quilômetros rodados em condições adversas. Um esforço gigantesco que muitas vezes termina em tragédia, como os casos recentes comprovam.
Diante desse cenário, cresce o clamor por uma interiorização efetiva da saúde pública. Especialistas e autoridades apontam que a única solução duradoura passa por reforçar a estrutura hospitalar nos municípios, permitindo que atendimentos especializados sejam realizados sem a necessidade de deslocamento até Porto Velho.
A ampliação de leitos, a contratação de especialistas e o investimento em equipamentos nos hospitais regionais são passos urgentes para evitar que o trajeto em busca de socorro se transforme em um caminho sem volta.
A crise é antiga, mas os números recentes reforçam a urgência: seis vidas perdidas em ambulâncias em apenas duas semanas. O tempo para agir é agora.