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Dengue: casos e mortes disparam no Brasil; mudança climática faz vírus circular

Entre 2 de janeiro e 18 de junho de 2022, conforme o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram registrados 1.172.882 casos de dengue no Brasil, o dobro de notificações registradas ao longo de todo o ano passado: 534.743.
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Independentemente da estação do ano, as medidas de combate à dengue devem ser mantidas de forma contínua. Embora o período conhecido como de maior transmissão seja entre novembro e maio, as mudanças climáticas têm ampliado os riscos de proliferação do mosquito transmissor mesmo em outras estações do ano. Entre 2 de janeiro e 18 de junho de 2022, conforme o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram registrados 1.172.882 casos de dengue no Brasil, o dobro de notificações registradas ao longo de todo o ano passado: 534.743.
Até o último balanço foram confirmadas 585 mortes – aumento superior a 130% em relação aos 246 óbitos contabilizados em 2021. Entre os Estados que apresentaram o maior número estão: São Paulo (200), Santa Catarina (66), Paraná (60), Rio Grande do Sul (57) e Goiás (55).

“Os casos de dengue estão estourando. Já temos, inclusive, mais óbitos, em apenas seis meses, do que os registrados ao longo de todo o ano passado. Estamos vivenciando uma das piores epidemias da doença. E há receio de termos um cenário pior que o registrado em 2015, quando houve uma das piores epidemias da doença, com 986 mortes”, avalia o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

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Embora o Aedes aegypti não sobreviva por muito tempo em baixas temperaturas – ao contrário do verão, quando o ciclo de vida pode chegar a até 60 dias -, os ovos e as larvas depositados na água permanecem vivos, podendo se desenvolver e dar origem a novos mosquitos com a chegada de semanas quentes, em qualquer época do ano.

Segundo o Ministério da Saúde, o período do ano com maior transmissão ocorre nos meses mais chuvosos de cada região, geralmente de novembro a maio. O acúmulo de água parada contribui para a proliferação do mosquito e, consequentemente, a maior disseminação da doença. No entanto, em anos com invernos chuvosos como o de 2022, o número de casos também tende a crescer, caso medidas de controle não sejam mantidas.

“Tivemos dois fatores. A questão toda é a chuva, mas no começo do inverno, no Sudeste e Sul, por exemplo, fez muito calor. Semanas com temperaturas maiores. Ou seja, as mudanças climáticas fazem com que a temperatura mais quente e mais chuva ofereçam uma condição perfeita para a proliferação do vetor”, observa Barbosa.

O surgimento de outras doenças, como a covid-19, tende a reduzir o número de campanhas de conscientização, assim como provocar o relaxamento de ações preventivas por parte da própria população.

“As pessoas acabam relaxando mais com relação às medidas de controle de combate à doença. Essa falta de ação contínua de conscientização por parte das autoridades e o relaxamento da população impactam no aumento de casos. Precisam ser retomadas o quanto antes. Está circulando o genótipo 2, que fazia um tempo que não circulava, que não é o mesmo da epidemia de 2015, desta forma, as pessoas têm mais suscetibilidade ao vírus”, acrescenta o médico infectologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

São Paulo é o Estado com mais óbitos no Brasil

Liderando o número de óbitos por dengue no País, o Estado de São Paulo registra 292,1 mil casos de dengue e 250 óbitos até agosto de 2022, número que já apresenta alta em relação aos dados registrados até junho pelo Ministério da Saúde. Em 2021, foram contabilizados 145,8 mil casos e 71 mortes em todo o ano.

Ainda de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, as cinco cidades com maior número de óbitos pela doença até o momento são: Araraquara (17), Franca (14), Santa Bárbara d’Oeste (13), São José do Rio Preto (7) e Americana (7)

Para ajudar no combate à doença, o governo paulista está investindo R$ 10,7 milhões para apoiar prefeituras no controle da dengue, zika e chikungunya. “Os 291 municípios beneficiados foram selecionados com base nos indicadores epidemiológicos e entomológicos. Os recursos serão utilizados em ações de combate à disseminação do mosquito transmissor e monitoramento dos casos notificados”, disse, em nota.

A secretaria acrescenta que o enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti é uma tarefa contínua e coletiva, cabendo aos municípios o trabalho de campo para combate ao transmissor de dengue.

Riscos na região do Cerrado

Como mostrou o Estadão, estudo de cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), divulgado na revista científica PLOS, demonstrou que o avanço da destruição do Cerrado está diretamente ligado ao aumento do número de casos de dengue na região. O trabalho mostra que, se o ritmo do desmatamento continuar semelhante ao atual, sem uma política pública específica e regionalizada, em 2030 toda a área do Cerrado terá um aumento considerável dos casos da doença, transmitida pelo mosquito.

O Estado de maior preocupação é Minas Gerais. Dos atuais 2,2 mil casos por 100 mil habitantes, os registros da doença pulariam para 4 mil por 100 mil habitantes. Para impedir que a projeção se concretize, alertam os cientistas, o País terá que controlar o desmatamento e adotar novas políticas ambientais e de saúde pública.

Doença infecciosa febril aguda causada por um vírus pertence à família

Flaviviridae, do gênero Flavivírus, o vírus da dengue apresenta quatro sorotipos, em geral, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Geralmente, os sintomas da dengue surgem a partir do terceiro dia depois da picada do inseto, com uma média de cinco a seis dias.

É transmitido pela fêmea do mosquito Aedes aegypti (quando infectada pelos vírus) e pode causar tanto a manifestação clássica da doença quanto a forma considerada hemorrágica, conforme a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Sintomas da dengue

A doença pode ser assintomática ou pode evoluir até quadros mais graves, como hemorragia e choque. Na dengue clássica, a primeira manifestação é febre alta (39° a 40°C) e de início abrupto, usualmente seguida de dor de cabeça ou nos olhos, cansaço ou dores musculares e ósseas, falta de apetite, náuseas, tontura, vômitos e erupções na pele (semelhantes à rubéola). A doença tem duração de cinco a sete dias (máximo de 10), mas o período de convalescença pode ser acompanhado de grande debilidade física, e prolongar-se por várias semanas.

Os principais sintomas:

Febre alta acima de 39°

Dor no corpo e articulações

Dor atrás dos olhos

Mal estar

Falta de apetite

Dor de cabeça

Manchas vermelhas no corpo

Aumento progressivo do hematócrito (medida da proporção de hemácias no sangue)

No que se refere à forma mais grave da enfermidade, conhecida como febre hemorrágica da dengue, os sintomas iniciais são semelhantes, porém há um agravamento do quadro no terceiro ou quarto dia de evolução, com aparecimento de manifestações hemorrágicas e colapso circulatório.

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