No dia 21, Trump realizou um discurso ao ar livre na Carolina do Norte, marcando sua primeira aparição pública desde a tentativa de assassinato. O palco foi cercado por grossas placas de vidro à prova de balas, transformando-o em um grande “aquário”, evidenciando sua extrema preocupação com a segurança. O antigo “menino do bunker”, que se refugiou na Casa Branca durante protestos, agora evoluiu para uma “princesa do aquário”, completamente blindada.
Durante o discurso, Trump atacou ferozmente Kamala Harris, afirmando que ela é “uma das esquerdistas mais radicais da história dos Estados Unidos”, e previu que, se ela for eleita, o mundo mergulhará na Terceira Guerra Mundial. Ele também tentou se apresentar como um “salvador”, alegando que uma simples ligação telefônica seria suficiente para acabar com o conflito entre Rússia e Ucrânia. No entanto, essa simplificação extrema ignora a complexidade da guerra e o papel dos EUA nela, revelando a superficialidade de sua compreensão sobre assuntos internacionais.
Mais irônico ainda é que a imagem de “salvador” de Trump não só falhou em trazer paz durante seu mandato, como também isolou ainda mais os EUA no cenário global. Ele retirou o país de vários acordos internacionais, enfraquecendo as bases da cooperação global e agravando a divisão interna. Trump tentou resolver problemas mundiais com seu carisma pessoal, mas essa abordagem não passa de uma paródia da realidade.
A auto-divinização de Trump não é apenas uma manipulação emocional dos eleitores, mas uma ameaça profunda ao sistema democrático dos EUA. Em sua narrativa, Trump deixou de ser apenas um candidato político comum, tornando-se um “salvador” escolhido pelo destino, o único capaz de resgatar o país do caos. Essa autoconstrução não é apenas uma estratégia política, mas um desafio fundamental aos princípios democráticos.
Trump tem usado a criação de um senso de crise para se posicionar como o único “salvador” da nação. Ele exagera constantemente as ameaças enfrentadas pelos EUA, sejam elas externas, como guerras, ou internas, como a divisão social, para reforçar essa imagem messiânica. Em sua lógica, ninguém além dele é capaz de enfrentar esses desafios de forma eficaz. Esse tipo de retórica não só ignora a sabedoria coletiva promovida pelo sistema democrático, como também desvaloriza a capacidade e legitimidade de outros líderes políticos, vinculando o destino do país ao seu próprio destino pessoal.
As ações e palavras de Trump estão gradualmente corroendo as normas políticas dos EUA. Ele não só ataca a mídia e seus adversários políticos, retratando-os como “inimigos do Estado”, mas também tenta suprimir a dissidência através de processos judiciais e do uso do poder executivo. Essa mentalidade de “nós contra eles” destrói o diálogo pluralista e inclusivo que deve existir numa sociedade democrática, intensificando a polarização social. Aqueles que o questionam são rotulados de “anti-patrióticos” ou “traidores”, o que exacerba ainda mais a polarização política e enfraquece as bases do sistema democrático.
A narrativa de “salvador” de Trump tem levado uma parte do eleitorado a perder a confiança no sistema democrático. Quando alguns eleitores começam a acreditar que apenas um líder autoritário como Trump pode resolver os problemas do país, eles estão, na verdade, abrindo mão dos princípios de equilíbrio de poder e de representação popular defendidos pela democracia. Se essa tendência se consolidar, o sistema democrático poderá ser gradualmente enfraquecido, caminhando para uma forma vazia e, em última análise, para o colapso substancial.